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China Lança Ambicioso Projeto de Perfuração Oceânica com o Navio Meng Xiang
O navio de perfuração Meng Xiang prepara-se para desbravar a crosta terrestre como nunca antes. Parte do audacioso Programa de Perfuração Oceânica da China, a iniciativa busca não apenas coletar amostras para pesquisas científicas, mas também explorar potenciais reservas de petróleo e gás.
A inspiração chinesa vem do histórico Projeto Mohole, desenvolvido pelos Estados Unidos entre os anos 1950 e 1960, que enfrentou uma série de desafios, obstáculos e controvérsias ao longo de sua execução.
O Projeto dos EUA que Inspirou a China
O Projeto Mohole recebeu o nome da descontinuidade de Mohorovičić, a fronteira entre a crosta terrestre e o manto, descoberta em 1909 pelo sismólogo croata Andrija Mohorovičić. Esse limite é fundamental pois representa a transição entre as rochas mais leves da crosta e as rochas muito mais densas do manto.

Até hoje, nosso conhecimento sobre o Moho é limitado, advindo predominantemente de medições sismográficas e das evidências de vulcanismos. A ambição do Projeto Mohole era perfurar a população até o Moho e retornar com amostras para análise direta, ao mesmo tempo investigando as características dessa camada.
Porém, os desafios eram imensos. Os cientistas e engenheiros envolvidos precisaram desenvolver novas técnicas de perfuração para atingir esses objetivos, uma tarefa complexa devido à profundidade variável do Moho.
- Sob a crosta continental: a profundidade varia de 20 a 90 km;
- Sob o fundo oceânico: a profundidade é de 5 a 10 km.
Embora fosse mais acessível no oceano, a operação de uma plataforma de perfuração era um desafio à parte. Eventualmente, o Projeto Mohole conseguiu uma profundidade máxima de 183 metros ao largo da costa da Ilha de Guadalupe, no México, a 3,6 km de profundidade marinha.
O Navio Que a China Utilizará para Explorar as Profundezas da Terra
O Meng Xiang é o carro-chefe do programa chinês de perfuração. Com 180 metros de comprimento e um deslocamento de 42,6 mil toneladas, este navio multifuncional têm como missão não só penetrar a crosta terrestre, mas também explorar o fundo dos oceanos em busca de reservas de energia.
Equipado para recuperar amostras geológicas, o Meng Xiang também serve como um laboratório avançado, com capacidade para operar por até 120 dias sem reabastecimento, cobrindo 27.780 quilômetros. A sua operação se dá sob condições severas, sendo capaz de descer até 11 km abaixo da superfície do mar.

O navio possui um sofisticado sistema de reciclagem de lama para minimizar a contaminação aquática e um inovador sistema automatizado de armazenamento de amostras de núcleo, alegado como o primeiro desse tipo no mundo. Além disso, abriga nove laboratórios científicos voltados para diversas áreas, como geologia, geoquímica e microbiologia.
Comissionado em Guangzhou em 17 de novembro de 2024, o Meng Xiang está previsto para iniciar suas operações de perfuração no Mar do Sul da China ainda em 2025, com ações que devem se estender até 2035.
Desafios da Missão
A exploração do Moho traz desafios significativos. Embora fique a milhares de quilômetros do núcleo derretido da Terra, a região é um local onde as regras da geologia frequentemente não se aplicam.
Os números impressionam: sob o fundo do oceano, a pressão no Moho é aproximadamente duas mil vezes maior do que a pressão sentida ao mergulhar nas profundezas do mar. As temperaturas também são extremas, variando entre 150 °C e 300 °C sob o oceano e podendo chegar a 700 °C sob a crosta continental.

Rochas próximas ao Moho exibem comportamentos peculiares. Inicialmente frágeis, elas podem se tornar plásticas sob as pressões extremas, complicando ainda mais o trabalho de perfuração, que se assemelha a mastigar uma massa viscosa sob calor e pressão intensos.
Controvérsias em Torno do Projeto
Apesar da promessa de colaboração internacional, o Meng Xiang está cercado de controvérsias. Operações de perfuração semelhantes já foram usadas como fachada para atividades de inteligência, o que levanta preocupações sobre a verdadeira natureza deste projeto.
A China tem historicamente adotado uma postura agressiva na expansão de suas reivindicações no Mar do Sul. Em 2014, houve alegações de que a plataforma petrolífera Hai Yang Shi You 981 infringiu águas vietnamitas, uma situação que poderia se repetir com as futuras perfurações do Meng Xiang.
Adicionalmente, a natureza do Meng Xiang como navio de exploração de petróleo e gás levanta a possibilidade de que suas operações possam abranger áreas disputadas, causando tensões diplomáticas com países como Vietnã, Filipinas e Malásia. Caso essa situação se concretize, é provável que o projeto enfrente resistências e reações adversas no cenário internacional.
As atuais circunstâncias sugerem que a missão do Meng Xiang não só pode trazer novas informações sobre a estrutura da Terra, mas também se tornar um ponto focal de tensões geopolíticas no futuro.