Além da Moda: A Revolução da Publicidade com IA na Vogue

por Marcos Evaristo
The uproar over Vogue's AI-generated ad isn't just about fashion

O Impacto da Moda Digital: Modelos de IA e o Futuro da Indústria Fashion

Nos últimos anos, a indústria da moda passou por transformações significativas, principalmente impulsionadas pelo avanço da tecnologia. No centro desse debate, encontramos a utilização de modelos de inteligência artificial (IA), que prometem revolucionar a forma como as marcas se comunicam com seus consumidores. Esse tema não apenas levanta questões sobre a estética e a tradição, mas, sobretudo, sobre o futuro das oportunidades para os modelos humanos. Vamos entender melhor essa realidade em constante mudança.

O Surgimento dos Modelos E digitais

Em 2023, a modelo comercial Sarah Murray teve uma experiência marcante ao se deparar com um modelo digital na conta de uma famosa marca de denim. O que deveria ser uma inovação tornou-se um momento de tristeza para ela, refletindo as inseguranças que muitas modelos enfrentam atualmente. A marca Levi’s decidiu colaborar com um estúdio de IA para criar modelos digitais diversos, com o intuito de promover uma mensagem de inclusão. Contudo, a repercussão foi rápida e negativa, com muitos questionando a autenticidade desse tipo de diversidade, que muitos chamaram de “diversidade artificial”.

Assim, a moda se encontra em uma encruzilhada. Se, por um lado, a utilização de modelos digitais parece uma solução viável para expandir a representação no setor, por outro lado, a clara preferência por modelos humanos ainda ressoa com muitos consumidores e profissionais da indústria.

O Preço da Inovação

Sarah Murray expressou suas preocupações sobre como essa nova norma pode dificultar ainda mais a vida das modelos humanas. A pressão para atender a padrões de beleza “perfeitos” é intensificada quando modelos de IA podem ser gerados a um custo muito menor e com uma qualidade infinita. Para as marcas, essa mudança representa uma maneira eficiente de produzir conteúdo visual para campanhas, redes sociais e e-commerce.

Por exemplo, e-commerce models, que normalmente realizam as sessões fotográficas para publicidade de produtos online, estão em um caminho vulnerável. Embora este papel seja fundamental para a segurança financeira de muitos modelos, a crescente demanda por conteúdo de qualidade pode fazer com que as marcas optem por soluções digitais.

A Disparidade no Uso de Modelos

Ainda que os modelos virtuais possam parecer uma alternativa atraente, eles levantam questões éticas. Para muitos, o uso de modelos IA representa uma forma de “apropriação cultural robótica”. Isso significa que as marcas estão utilizando a diversidade de forma superficial, sem permitir que pessoas reais que representam essas identidades tenham a chance de brilhar.

Sarah defende que se as marcas realmente quisessem valorizar a diversidade, elas deveriam se abrir a autenticamente trabalhar com modelos humanos de diferentes origens. A partir do momento que uma marca escolhe um modelo digital em vez de uma pessoa da vida real, a mensagem de inclusão se perde.

O Dilema da Automação

Sinead Bovell, uma modelo e fundadora da organização WAYE, também se preocupa com as consequência da automação nos trabalhos criativos. “É muito mais barato trabalhar com IA,” diz ela, alertando que a pressão para reduzir custos está criando um ambiente onde as modelos humanas, especialmente as que se representam de formas menos convencionais, podem ser deixadas de lado.

Além disso, Paul Mouginot, um tecnólogo de arte, destaca que a automação já tem sido uma prática comum em diversos setores da moda, citando o exemplo de empresas que utilizam manequins virtuais para vendas desde 2013. A eficiência em custo para as marcas pode, portanto, criar um ciclo vicioso, onde a qualidade de representação e a essência da moda são sacrificadas em prol da economia.

Uma Questão de Escala

Um dos desafios mais relevantes que os profissionais da moda enfrentam atualmente é o aumento da produção e a demanda por conteúdo em larga escala. A era das redes sociais transformou a necessidade de conteúdo das marcas, que agora buscam produzir de 400 a 400.000 peças de conteúdo, conforme PJ Pereira, co-fundador de uma empresa de anúncios de IA. Essa demanda, unida ao desejo de reduzir custos, tem impulsionado o uso de modelos digitais.

Entre a Realidade e o Futuro

Não podemos ignorar que o uso de modelos IA tem o potencial de criar novas oportunidades. Para algumas modelos humanas, a possibilidade de consentir o uso de seus rostos para treinar sistemas de IA pode até resultar em novas fontes de renda. No entanto, como Sarah ressalta, essa opção não deve ser uma substituição ao trabalho de modelos humanos.

A luta por direitos e reconhecimento no setor da moda continua e, para muitos, é importante que o consentimento explícito e uma compensação justa sejam garantidos antes que suas identidades sejam utilizadas por algoritmos.

Um Novo Início para os Modelos Humanos

Diante da crescente competição com modelos de IA, Sinead sugere que as modelos humanas adotem abordagens empreendedoras e se concentrem em construir suas histórias únicas. Isso envolve a criação de marcas pessoais e a busca por novos fluxos de renda, como podcasts ou parcerias com marcas.

Essa mentalidade empresarial se torna uma habilidade essencial, não apenas na moda, mas em vários setores. A capacidade de contar uma história humana única é algo que a IA nunca poderá replicar totalmente.

A Polêmica em Torno da Aceitação

Muitos profissionais da moda, como Claudia Wagner, apontam que o uso de modelos IA ainda está na fase experimental. Algumas marcas estão apenas começando a explorar o que a IA pode oferecer. No entanto, a resposta à inclusão de modelos digitais em publicações tradicionais como a Vogue foi, para muitos, uma espécie de teste para o futuro da moda.

O impacto disso no mercado, no entanto, ainda é incerto. O que acontece se as marcas começarem a usar modelos de IA como padrão? Muitos acreditam que isso pode levar a uma desvalorização ainda maior do trabalho humano em favor de soluções mais baratas e rápidas.

Conclusão: O Caminho a Seguir

A moda digital, com modelos de IA, é uma realidade que apresenta tanto oportunidades quanto desafios. Enquanto alguns veem a tecnologia como uma forma de inovação, outros alertam sobre os riscos para modelos humanos e a necessidade de uma representação diversificada e autêntica.

Para a indústria da moda prosperar, é essencial que haja um diálogo aberto sobre o uso ético da tecnologia. Se as marcas realmente valorizarem a inclusão, elas devem considerar a contribuição inestimável de modelos humanos. O futuro da moda não precisa ser uma batalha entre humanos e máquinas; em vez disso, deve ser uma colaboração que celebre a diversidade e a autenticidade.

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