O Futuro do Direito: Como a Inteligência Artificial Está Transformando o Setor Legal
A inteligência artificial (IA) tem sido um tema crescente em diversas indústrias, mas a aplicação no campo jurídico pode parecer menos emocionante. No entanto, startups como a Harvey, liderada pelo CEO Winston Weinberg, estão mudando essa percepção. Esses avanços chamaram a atenção de investidores notáveis no Vale do Silício e empurraram a startup para uma avaliação impressionante de 8 bilhões de dólares em apenas alguns meses. Neste artigo, vamos explorar como essa transformação está acontecendo, o impacto da IA nas práticas legais e o que isso significa para os profissionais do direito.
Harvey e a Revolução na Indústria do Direito
A história da Harvey é uma narrativa inspiradora de empreendedorismo e inovação. Desde sua fundação, o objetivo da empresa tem sido claro: simplificar e otimizar o trabalho jurídico usando IA. Desde o início, eles buscaram entender como as tecnologias emergentes poderiam beneficiar advogados, melhorando a eficiência e a precisão no trabalho diário.
Em fevereiro de 2025, a Harvey estava avaliada em 3 bilhões de dólares. Em julho, esse número já havia aumentado para 5 bilhões, e até outubro, saltou para 8 bilhões. Este crescimento vertiginoso pode ser atribuído não apenas ao crescimento frenético do setor de IA, mas também ao fato de que a Harvey conseguiu conquistar a confiança de grandes escritórios de advocacia e departamentos jurídicos corporativos. Com mais de 235 clientes em 63 países, incluindo muitos dos melhores escritórios de advocacia dos Estados Unidos, a Harvey se consolidou como um player essencial no mercado.
O Papel da IA no Trabalho Jurídico
Como a IA Pode Beneficiar os Advogados?
Weinberg, em conversa com a StrictlyVC, compartilhou como a IA pode ser uma ferramenta valiosa para advogados, em vez de uma ameaça. Durante sua experiência inicial como advogado, ele começou a usar o GPT-3, uma tecnologia de IA desenvolvida pela OpenAI, para auxiliar em casos legais complexos. Essa prática não apenas facilitou a sua carga de trabalho, mas também ilustrou o potencial da IA de transformar a indústria.
Para muitos, a ideia de um advogado sendo substituído por uma máquina é alarmante. No entanto, Weinberg acredita firmemente que a IA não está aqui para substituir os advogados, mas sim para empoderá-los. Com a adoção crescente de ferramentas de IA, os advogados podem se concentrar em tarefas mais estratégicas e criativas, enquanto a IA cuida das tarefas mais repetitivas e demoradas.
O Caso da Eficiência
Um exemplo prático do uso da Harvey envolve um estudo que Weinberg e seu cofundador, Gabe Pereyra, realizaram. Eles coletaram perguntas frequentes sobre direito de locação e usaram o GPT-3 para gerar respostas. Para sua surpresa, em 86 das 100 perguntas analisadas, as respostas eram aceitáveis para advogados experientes sem necessidade de edições. Isso não só validou a eficácia da IA, mas também demonstrou que tecnologia e legalidade podem andar lado a lado.
Processo de Venda e Expansão Global
A Estratégia que Funciona
Harvey começou como uma solução focada em escritórios de advocacia, mas em um movimento estratégico inteligente, começou a direcionar também suas ofertas para o setor corporativo. No início de 2025, 96% de sua receita vinha de escritórios de advocacia, enquanto apenas 4% vinha de empresas. Hoje, essa divisão está em transição, com cerca de 33% da receita proveniente de empresas e o número deve chegar a 40% até o fim do ano.
Mas como essa expansão se deu? A resposta está na colaboração. À medida que os escritórios adotaram a Harvey, muitos deles começaram a introduzir a ferramenta para seus clientes corporativos, criando um fluxo de vendas orgânico e reforçando a utilidade da IA no dia a dia do trabalho legal.
A Abordagem “Multiplayer”
Weinberg fala sobre a importância da interação entre diferentes stakeholders no setor legal. Ele menciona a necessidade de criar uma plataforma que funcione não só para in-house counsel, mas também para as empresas e seus escritórios de advocacia. O desafio é garantir que todos possam trabalhar juntos de maneira segura e eficiente, respeitando as fronteiras éticas e legais.
Esta abordagem "multiplayer" visa não apenas facilitar a comunicação entre advogados e clientes, mas resolver questões críticas de permissão interna e externa. Por exemplo, como evitar que informações sigilosas de um cliente sejam acessadas por outro? Essa é uma preocupação fundamental a ser abordada à medida que a IA se torna mais prevalente nas práticas jurídicas.
O Que Esperar do Futuro
A Evolução da Formação de Advogados
Uma das questões levantadas é o futuro dos advogados juniores, que costumavam aprender com os mentores em suas primeiras experiências. Como a IA automatiza muitas tarefas, muitos se perguntam como isso afetará o aprendizado. Weinberg acredita que, nos próximos cinco a dez anos, a prioridade deve ser treinar novos advogados com maior eficiência.
Ele vê a IA como uma oportunidade para construir um ambiente de aprendizagem mais robusto. Imagine um sistema que não apenas permite que um advogado júnior participe de uma transação, mas que também ofereça feedback em tempo real, aprimorando o processo de aprendizagem.
A Sustentabilidade do Modelo de Negócio
Em termos de financiamento, a Harvey não planeja buscar novas rodadas de investimento tão cedo. Segundo Weinberg, eles têm um plano sustentável e não estão queimando capital de forma excessiva. A necessidade de recursos para pesquisa e desenvolvimento é reconhecida, mas a ideia é continuar crescendo de forma orgânica e estratégica.
Conclusão
A transformação que a Harvey está trazendo para o setor jurídico não é apenas sobre a adoção de novas tecnologias, mas sobre como essas inovações podem mudar fundamentalmente a forma como os advogados trabalham. Ações como a colaboração entre diferentes stakeholders, o uso eficiente da tecnologia de IA e a eficácia nas vendas reafirmam a relevância da Harvey no mundo jurídico moderno.
À medida que as ferramentas de IA se tornam cada vez mais sofisticadas, o papel do advogado poderá se transformar radicalmente, permitindo que os profissionais se concentrem em aspectos mais humanos e complexos do direito. Isso não é apenas uma evolução; é uma revolução que irá moldar o futuro da profissão e impulsionar o setor jurídico para novas alturas.